Nova Era Trump
Gisele Leite
Professora universitária aposentada. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito.
Presidente da Seccional RJ da ABRADE. Pesquisadora-chefe do INPJ. Trinta e sete obras jurídicas publicadas.
Articulista e colunistas dos principais sites jurídicos.
Logo tendo tomado ações rápidas e contundentes neste início de mandato e o impacto sobre os principais conflitos mundiais parece ser expressivo. O grupo terrorista Hamas aceitou acordo de cessar-fogo e entrega reféns e, ainda, a pressão sobre a Ucrânia para que feche acordo com a Rússia.
O movimento MAGA (Make America Great Again) possui milhares de apoiadores e veio celebrar a posse de Donald Trump, significando ver seu movimento voltar a comandar o país mais rico do mundo.
A ideia de trás do slogan é simples e potente. E, traz a promessa de melhorar o país, desenvolvê-lo mais. O movimento traz também a veemente defesa de valores considerados tradicionais tais como a valorização da força masculina, o combate ao aborto e a defesa de modelo de família formado por homem e mulher.
Esse arremedo de conjunto ideológico ajudou Trump a atrair e manter base fiel de eleitorado por quase uma década, desde as eleições de 2016. Ainda afirma Trump que as dezenas de processos contra ele eram uma armação de seus adversários. E, após vencer a eleição, os casos foram anulados, pois os Presidentes dos EUA possuem direito à imunidade em diversas situações.
Após tomar posse, Trump fez um discurso em uma arena esportiva lotada, no mesmo clima dos comícios de eleitoral. É quase como um ritual. Trump entra em cena ao som de “God Bless the USA“, dá deixas para que a plateia complete suas frases e, muitas vezes, dança “Y.M.C.A”, do Village People, mexendo os braços. O grupo se apresentou em dois eventos paralelos da posse, e Trump dançou ao lado deles.
Em eventos, a plateia aplaudiu de forma mais intensa quando Trump mencionou medidas contra a imigração e contra políticas de inclusão e de combate ao preconceito. O novo presidente ressaltou sua visão de que só existem dois gêneros, homem e mulher, por exemplo, e determinou que o governo americano encerre programas para ampliar a presença de pessoas LGBT e não-brancas nas carreiras públicas. Ele disse que a medida visa defender a meritocracia.
“Quanto mais popular for seu mandato, maior a chance de que seu eventual substituto venha deste movimento”, diz. “Caso contrário, outras alas republicanas, hoje coadjuvantes, poderão se tornar protagonistas.
A retórica do Estado Mínimo que até pouco tempo era associada ao liberalismo norte-americano, ficou em segundo plano. Aliás, o republicano prometeu aumentar as barreias ao comércio internacional e ainda expandir subsídios e isenções de impostos para os norte-americanos, uma plataforma que muito se aproximou do populismo econômico e ainda rompeu com a ideologia que até recentemente predominava em Washington, a do livre mercado.
Enfim, a política de majoração tarifária de importações, de fechamento da economia ao comércio internacional, a política pública de reindustrialização que envolve a atuação do governo mais firme, vai no sentido contrário do liberalismo econômico, conforme ensina Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre-FGV) e professor da UFRJ.
Prossegue o professor em explicar que se trata de discurso nacionalista e visa favorecer os cidadãos e as empresas norte-americanas. A avaliação é de que a medida pode reduzir o fluxo do comércio global, com desaceleração da atividade econômica em diversos países, e aumentar a inflação nos EUA, processo que, em última instância, fortalece o dólar e deixa a moeda americana mais cara.
O protecionismo tarifário, como é chamado no jargão econômico, “ou vira inflação ou vira redução de demanda”, pontua José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
Os EUA continuam sendo o país mais rico do mundo, mas perderam o protagonismo e a influência que tiveram no pós-Segunda Guerra e no período logo depois do colapso da União Soviética.
O dólar é amplamente visto como ativo seguro, e títulos do Tesouro americano são considerados dos mais confiáveis, atraindo capital internacional mesmo em períodos de juros baixos. Metade dos títulos de dívida internacional e empréstimos transfronteiriços emitidos em mercados offshore são em dólar.
O domínio comercial do dólar é expressivo: entre 1999 e 2019, a moeda representou 96% das faturas comerciais nas Américas, 74% na Ásia-Pacífico e 79% no mundo (FMI). Esse uso sublinha a influência direta das decisões econômicas dos EUA sobre outras economias, especialmente países emergentes que dependem de financiamento em dólar e são mais vulneráveis às flutuações da moeda americana.
Em 2023, o comércio de bens entre Brasil e EUA totalizou US$ 75 bilhões, consolidando os EUA como o segundo principal destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China. As exportações brasileiras para os EUA somaram US$ 36,9 bilhões, com destaque para produtos da indústria de transformação, como siderurgia, metalurgia e aeronaves.
Enfim, apesar de certa estabilidade na política econômica dos EUA, a eleição de Trump em um cenário global instável cria grandes incertezas para parceiros comerciais.